Queridos filhos,
Na liturgia de hoje, contemplamos Jesus sendo acolhido com entusiasmo ao entrar em Jerusalém. A multidão o recebe com ramos e gritos de júbilo: “Bendito o que vem em nome do Senhor!”. No entanto, essa aclamação festiva nos introduz diretamente na contemplação do mistério da sua Paixão. A Igreja, sabiamente, une essas duas realidades para revelar que Cristo não é um rei segundo os moldes do mundo: Ele não vem em majestade para ser servido, mas com humildade para servir e se entregar. Sua realeza se manifesta no silêncio, na mansidão e na cruz.
O mesmo povo que estende mantos pelo caminho será, dias depois, aquele que bradará por sua crucifixão. A liturgia nos convida a nos colocarmos nessa cena: somos nós os que aclamam e, por vezes, também os que traem. Esse paradoxo nos provoca: qual é o Cristo que acolhemos em nossa vida? Um rei que realiza nossos desejos ou o Servo que nos convida a carregar a cruz com Ele?
O SILÊNCIO QUE FALA MAIS ALTO
Ao entrarmos no relato da Paixão, percebemos que São Lucas apresenta Jesus com uma serenidade tocante. Diante dos gritos da multidão, das acusações dos chefes, da violência dos soldados, Ele permanece silencioso, firme, entregue. Não busca justificar-se, tampouco se defender. Ele sabe que seu caminho é o da obediência ao Pai. Sua realeza passa pela cruz. E é ali, no madeiro, que Ele revelará toda a profundidade do amor divino.
Ao contrário dos reis deste mundo, que se impõem pela força, Jesus se impõe pelo amor. O Evangelho mostra que, mesmo condenado injustamente, Ele continua amando: consola as mulheres de Jerusalém, olha para Pedro após a negação, intercede pelos que o crucificam. Lucas, mais do que relatar o sofrimento físico, revela a vitória interior de um coração que ama até o fim. Esse é o verdadeiro poder de Cristo: não evitar a dor, mas transformá-la em oferta.
O OLHAR DE MISERICÓRDIA E O LADRÃO ARREPENDIDO
Um dos momentos mais comoventes da narrativa é o diálogo entre Jesus e o malfeitor crucificado ao seu lado. Enquanto um o insulta, o outro reconhece a própria culpa e, num gesto de fé, suplica: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. É a primeira vez que alguém reconhece, em Jesus crucificado, um rei. E Cristo responde com a promessa mais consoladora do Evangelho: “Hoje estarás comigo no paraíso”.
Este episódio mostra que, até o último instante, Jesus oferece salvação. Nenhum pecado é maior que sua misericórdia. A cruz, que aos olhos humanos parece sinal de derrota, torna-se trono de glória. E o primeiro a entrar no Reino não foi um discípulo, nem um justo, mas um pecador arrependido. A esperança cristã nasce aí: na certeza de que, mesmo em meio às nossas quedas, podemos voltar a Ele e receber, da sua boca, palavras de vida eterna.
A ENTREGA TOTAL AO PAI
Ao fim do relato, Jesus entrega seu espírito ao Pai, dizendo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. É o último suspiro de quem viveu inteiramente para o amor. Começou sua missão falando do Pai, e termina-a confiando-se plenamente a Ele. Mesmo sendo pregado na cruz, mesmo sendo abandonado por quase todos, Jesus não perde sua confiança. Ele sabe que o Pai está presente, mesmo no silêncio.
Neste domingo, somos convidados a iniciar a Semana Santa não apenas como espectadores da dor de Cristo, mas como discípulos que desejam segui-Lo mais de perto. Ele entra em Jerusalém também hoje, procurando corações dispostos a acolhê-Lo não só na festa, mas na cruz. Se nos deixarmos tocar pela sua mansidão, se reconhecermos nossas fragilidades como Pedro e o bom ladrão, se entregarmos nossas vidas como Ele, também nós ressuscitaremos com Ele. Que esta Semana Santa seja um verdadeiro caminho de conversão, entrega e esperança.
Deus vos abençoe! +
Att.: